quarta-feira, 5 de abril de 2017

Precisar de reconhecimento ou reconhecer o seu ser?


A necessidade que temos de reconhecimento chega a ser algo instintivo, e quando essa necessidade não encontra eco da maneira que imaginamos, nos conduz a uma cadeia de frustrações e sentimentos fragilizantes, os quais minam, de maneira perene, tudo que planejamos, sonhamos e sentimos sobre determinados momentos e realizações em nossas vidas.

É muito difícil a ideia de administrar expectativas alheias sobre as nossas vidas e a forma como correspondemos - ou não - às expectativas daqueles que nos importam. Não tem sentido, na verdade, procurar satisfazer a outrem antes de se satisfazer. Essas expectativas se tornam um fardo que nos acompanha em cada momento, já que, por um falso sentimento de gratidão, entendemos que devemos satisfazer, ainda que minimamente, àqueles que nos proporcionaram o acesso a quem somos e quem podemos ser dentro de nossa vida privada e pública.

Pois é. Mas querer ser o que não somos só nos debilita, fraqueja e dói.

Sinto isso neste momento: vejo que pessoas importantes são capazes de ignorar os progressos alheios em nome dos próprios conceitos e interesses, sendo ao mesmo tempo incapazes de parabenizar ou expressar orgulho pelo progresso não obtido da forma por estas pessoas idealizado. Fragilizam um momento sensível, de pressão e forte teor decisivo simplesmente porque não é aquilo que idealizaram para você. Projetaram, imaginaram e sonharam, mas esqueceram de combinar o resultado com o personagem principal: você!

Não combinaram nada comigo sobre quem eu deveria ser para agradar. Não me perguntaram quem eu queria de verdade ser ou me libertaram de ter que expor e explicar isso. E, quando minha vida tem um salto, fazem questão de me manter amarrado ao solo. Eu não quero mais isso, mas não sei como fazer sem parecer ingrato. E isso é pesado.

Como não ser ingrato? Este é um dilema dos mais complexos na cabeça daqueles que se sentem de alguma forma devedores para uma ou mais pessoas que, com apoio precioso, proporcionaram coisas que normalmente poucos tem acesso durante a sua construção pessoal. Não quero jamais parecer ou mesmo ser ingrato, mas será que me tornar o que não tenho vontade de ser é a melhor forma de expressar que sou feliz por ter recebido tanto para me tornar quem sou?

Eu me sinto infeliz com esses dilemas. Mas minha vida não precisa de dilemas, precisa de certezas, e certeza é que Deus jamais abandonou aquele que n'Ele crê. O mais me parece ser de somenos importância. Não se trata de discurso religioso, trata-se, na verdade, de buscar refúgio em algo muito maior do que os dilemas da existência, de que as (in)gratidões e as expectativas sejam capazes de refletir a anulação de nossos egos.

Trata-se de crescer, vicejar e vencer. Pois quem te ama, sempre há de torcer por você, mesmo quando não há concordância, seja no que se espera ou no que ainda há de ser.

Deus nos trata a todos com misericórdia, amor e respeito, independentemente do que fazemos. Precisamos mesmo dos aplausos de alguém?